terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Ideia mortal

Quem conta um conto, aumenta um ponto !
Eternas lembranças a Bia...
- Consegui, consegui uma ideia para meu novo livro!
- Que bom amor! Mas fala logo, qual é a ideia ?
- Não posso, um autor como eu não deve revelar suas ideias. Não estou dizendo que desconfio de você, mas de repente você conta para uma pessoa, que conta para outra, que conta para outra e quando eu for ver meu livro já foi publicado por um outro autor.

Pois é, ainda me lembro da conversa que tive com a minha mulher naquela manhã de domingo. Na verdade, preferiria ter contado a ela e que ela tivesse contado para todo o mundo e que esse livro tivesse sido escrito e publicado por outro autor. Afinal, este foi a razão do 'fim da minha vida'.
Bom, é melhor começar a contar essa história, sendo ela a pior que alguém já pode ter ouvido, desde o início.

Naquela mesma manhã de domingo, acordei com a inspiração a flor da pele e uma maravilhosa ideia para meu novo livro isso me deixou radiante, afinal fazia um bom tempo que não escrevia nada, precisa de dinheiro, mordomias, as contas estavam se acumulando debaixo do tapete da porta da frente da casa. Não revelara ainda o conteúdo dos meus pensamentos a ninguém, o medo de ter a ideia roubada me possuía.
Alem desse medo, outros sentimentos também me tomavam, sendo um deles a ansiedade, ansiedade de voltar a escrever, escrever como não escrivia a muito tempo. Então, desci até o porão e lá remontei minha antiga mesa de madeira com uma velha luminária, o necessário para mim. Sentei numa pequena banqueta também de madeira que por sua vez estava sendo devorada pelos cupins que viviam naquele porão nada limpo, cheio de insetos mortos e vidas perdidas, comecei então a escrever.

A historia de que eu tanto falava, era sobre um homem, melhor dizendo, sobre um assassino que com o desenrolar das páginas acaba por matar sua mulher, filhas e toda sua família.
Era nesse porão e escrevendo essa historia que eu passava todos os dias, o dia inteiro. Só saia de lá para comer e tomar banho, quando isso acontecia, o que estava se tornando meio raro.

Minha mulher já estava ficando preocupada, angustiada e nervosa, fazia de tudo para que eu voltasse a ser como antes, dentre tais tentativas vinham: diferentes comidas, tudo que possam imaginar, tentaivas frustradas ate mesmo, provocações sensuais ela fazia, o que não adiantava muito, o desejo que antes sentira por ela agora estava se desmanchando, diminuindo minha cabeça e meu corpo só consiguiam pensavam em escrever. Estava neurótico, compulsivo pela minha nova ideia.

E assim foi, após um longo tempo isolado, metade do meu livro já estara pronto, foi então que algo de diferente começou a acontecer comigo, eu não era mais o mesmo, aquele personagem da minha historia começou a tomar conta da minha mente, era como se ele estivesse dentro de mim e minha alma fosse a dele.
O sangue subiu a minha cabeça, o desejo de matar agora estava presente dentro de mim. Fui em direção a um canto perto da escada e abri aquele armário todo corroído, onde ali estava minha velha coleção de facas guardada com tanto carinho.
Minha mulher que estranhou o movimento, bateu na porta. Eu com passos ocos subi aquela escada escura enquanto minha mão deslizava pelo corrimão de ferro. Então, com um singelo movimento, destranquei a porta e a abri.
O sorriso dominou o rosto de minha mulher por alguns segundos, mas com uma simples facada, eu o desfiz.

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